Homossexualidade e Espiritismo
Enviado em 31 de agosto de 2016 | No programa: Diálogos Médicos | Escrito por Marcelo Saad | Publicado por Vanessa Cavalcanti
Este texto foi escrito baseado no programa
Diálogos Médicos de
26/07/2016. Neste programa, discutimos uma matéria da Folha Espírita
relacionada ao tema. Sabemos que, de modo geral, a sexualidade tem tabus
que atravessam os tempos e as culturas.
A
aversão à homossexualidade é um destes tabus, algo que não passa por
explicações lógicas. Clinicamente, a homossexualidade já foi catalogada
no passado como um distúrbio. Hoje, ela não é considerada uma doença, e
sim uma preferência. Em uns poucos países, a homossexualidade ainda é
crime; em alguns outros, as hostilidades contra homossexuais ficam
impunes por uma omissão das autoridades.
No
campo religioso, alguns grupos cristãos radicais baseiam-se em uma
passagem bíblica (Levítico 18:22) para condenar a homossexualidade: “Com
homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é”.
De
fato, este preceito está no Antigo Testamento, mas o que estes grupos
ignoram é que ali existem 613 mandamentos. Quem respeita todos estes
preceitos são os judeus observantes ultra-ortodoxos. Alguns exemplos
incluem: não comer misturas de leite e carne (Êxodo 23:19); não andar
fora dos limites da cidade no Shabat (Êxodo. 16:29); os homens não devem
raspar a barba com uma navalha (Levítico 19:27). Assim, alguém que faça
a barba para viajar ao litoral no sábado para comer um cheeseburger já
estará infringindo três mandamentos. E mesmo havendo uma objeção à
homossexualidade no Antigo Testamento, não existe um mandamento
incitando a perseguição àqueles que não o seguem.
Na
prática cristã, se há conflito entre preceitos do Antigo com os do Novo
Testamento, este último é prioridade. O cristão, quando em dúvida, deve
perguntar o que Jesus faria. Podemos imaginar que Jesus poderia até
mesmo acolher um homossexual como seu seguidor. Jesus aproximou-se de
pecadores, prostitutas, coletores de impostos. Não condenou a adúltera,
que havia sido sentenciada à morte por apedrejamento. Jesus defendia um caminho alternativo à estrita obediência à Lei,
com a caridade como prioridade. Isto irritava os fariseus, o que
culminou com o complô que resultou na crucificação de Jesus. Assim,
alguém que siga cegamente o Velho Testamento está agindo como os
fariseus.
Grupos
espíritas que não permitam a aproximação de homossexuais nos trabalhos
da casa espírita desconhecem que não há objeção doutrinária à integração
destas pessoas nestas atividades.
No Espiritismo há referências vagas à homossexualidade, até porque suas principais obras guia são de outros tempos.
Algumas citações ajudam a elucidar a situação espiritual na
homossexualidade. Andre Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, cita que
o Espírito não tem gênero. O corpo perispirítico se apresentará
conforme a sua vida íntima o determine, refletindo a feição determinada
por seu psiquismo.
O
corpo físico vai mudando de gênero a cada nova encarnação. Algumas
vezes, o Espírito reencarna na forma invertida à predominante em seu
estado mental, por prova ou tarefa. Neste caso, o Espírito ainda se
identifica com o gênero da encarnação passada, que pode não ser o mesmo
da atual.
Mesmo considerando esta dissonância espiritual,
a literatura espírita nunca cita a homossexualidade como algo
patológico ou reprovável, que precise de modificação forçada. Os
religiosos radicais que acreditem que perversões reprováveis seriam
característica de homossexuais são incapazes de enxergar que
heterossexuais podem ter comportamentos ainda mais degradantes.
Concluindo,
não há argumento religioso que justifique hostilidade e perseguição aos
homossexuais. O Espiritismo apenas estará na vanguarda da transformação
da humanidade quando seus representantes forem capazes de agir como
verdadeiros cristãos.